O
tráfico de seres humanos é uma das maiores violações dos Direitos Humanos, pois
configura uma forma de escravidão, quer seja sexual ou laboral, que se
aproveita da pobreza de sociedades localizadas na sua maioria em África ou na América
do Sul.
A
comunicação social tem dado, nas últimas semanas, maior visibilidade a casos de
tráfico de seres humanos no futebol. Surpresa para muitos e confirmação para
outros?!
O
sonho de muitos jovens de ser jogador profissional de futebol leva‑os a
acreditar em promessas de empresários que mais não são que exploradores de
sonhos. Os clubes pactuam ao receberem estes atletas por entenderem ser uma
mais-valia desportiva. Conjuga-se assim a ganância do dinheiro com a da vitória
desportiva.
Os jovens atletas são aliciados para jogar na Europa, pagam
milhares de euros a intermediários por promessas de grandes contratos e de um
futuro melhor. Portugal é a porta de entrada. Muitos são abandonados, passam
fome e falta de teto para dormir.
Pensamos que a escravatura é coisa do passado, o que não
corresponde à verdade. Hoje, estes jovens são aliciados para a aventura na
esperança de uma vida melhor, através da prática desportiva, e acabam por ser
escravos dos tempos modernos.
Esta
exploração laboral não pode ser ignorada pelo Estado que tem mecanismos que lhe
permitem atuar a nível criminal e reportar às Instâncias desportivas para que
penalizem todos os intervenientes nestes casos. A sanção desportiva tem de
estar presente e ser dissuasora.
A
falência dos clubes e a sua sede de ganhar contribuem para este “mercado”.
Formar atletas e proporcionar aos jovens locais a prática desportiva não dão tanto
protagonismo como uma vitória, mesmo que efémera e sem sustentabilidade.
Dados
do Observatório do Tráfico de Seres Humanos revelam que, entre 2015 e 2017,
houve 15 vítimas deste “negócio” no futebol. Acredita-se que o número pode aumentar
este ano.
Torna-se
urgente criar uma estratégia que combata os grupos organizados que vendem
ilusões e lucram com os sonhos de tantos jovens futebolistas. O modus operandi é igual ao de outras
situações de exploração laboral: sonegação de documentos e cativação de
rendimentos, que colocam estes jovens em total dependência de terceiros.
O desporto é um veículo de transmissão de valores positivos
para a plena formação do indivíduo e está dotado de projeções benéficas para o
todo social. Por isso, estas situações de escravatura têm de ser erradicadas de
vez com severas punições para quem as pratica.
terça-feira, 7 de maio de 2019
Mercadoria Humana
Texto de Vítor Santos
Desenho de Paulo
Medeiros
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