terça-feira, 28 de maio de 2019

Táticas e modelos comportamentais!


Durante os 15 anos em que estive ligado ao desporto como treinador de crianças e jovens, foram muitos os episódios que me incentivaram a escrever sobre o comportamento dos adultos na prática desportiva.
Todos cometemos erros, e eu não sou exceção. Queria e quero sempre ganhar. Apaixonado pelo desporto, vivia tanto ou mais que muitos que estabulavam em cada jogo, sem que para isso precisasse de desrespeitar quem quer que fosse.
A verdade é que nunca foi preciso nenhum árbitro me admoestar e nunca fui injuriado por adversários por alguma atitude menos própria que realmente tenha adotado. A convivência com os pais nem sempre foi fácil. Muitas vezes a mensagem não lhes chegava da melhor forma e sentia-me incapaz de lhes transmitir que o que fazíamos era o que entendíamos ser o melhor para o filho.
As sextas-feiras, dia das convocatórias, eram um suplício. O telemóvel tocava quase em permanência.
O insucesso de alguns atletas em jogo só atrasa o seu processo de evolução. Os treinos são autênticas sessões de aprendizagem/evolução, mas não são encarados como tal. Entre um jogo em que o fracasso está presente e um treino em que o êxito é muito grande, os pais optam sempre pelo primeiro. Desvalorizar o treino é um dos grandes erros dos progenitores.


Partilho convosco alguns dos episódios que vivenciei e que ainda hoje não compreendo porque tiveram, têm e terão de ser assim.

1 – Jogava-se uma final de um campeonato distrital de futebol de 7, sub-13. A rivalidade entre as duas equipas é enorme e o ambiente, com o campo cheio de espetadores, de muita festa e adrenalina. Quando o árbitro apita para o fim do jogo é uma explosão de alegria pela vitória. Surpreendentemente, a mãe de um atleta meu invade o campo e dirigindo-se a mim, com o dedo indicador apontado ao meu rosto, diz-me:
– "Não volta a falar assim para o meu filho". Nem o título de campeão me livrou da descompostura.
(Os pais não percebem que a forma como comunicamos com os atletas depende da personalidade destes e de os conhecermos bem em competição.)

2 – Fase final de um campeonato distrital de juvenis. A competitividade estava no auge e eis que na véspera de um jogo, por volta da 1:30 h da noite de um sábado, um meu atleta envia um SMS a solicitar transporte para o jogo da manhã de domingo. A hora deste envio devia-se ao facto de ter adormecido cedo e se ter esquecido de enviar a mensagem. Pura mentira. Estava mesmo à minha frente na zona histórica da cidade, zona dos bares e de convívio noturno. A minha resposta foi:
– "Deixa-te estar onde estás, que acabas de ser desconvocado". Não pactuei com a mentira. Perdemos o jogo e o 1.º lugar. O jovem e a mãe pediram desculpa pelo sucedido e afirmaram que não voltava a acontecer. No final do jogo seguinte, um colega treinador do clube abordou-me e disse-me que o atleta em questão estava na mesma zona na noite anterior ao jogo. De nada valeu. Hoje sei que prejudiquei a equipa.
(Na formação não conseguimos corrigir comportamentos se os pais forem cúmplices nos desvios às regras pelas quais se deve reger um atleta.)

3 – Campeonato distrital de juniores. O jogo aproximava-se do fim e, na bancada, os pais andavam numa pancadaria que concentrava a atenção de todos. O jogo deixou de ser importante e os atletas e árbitros só olhavam para a bancada. O árbitro apitou para o final do jogo e só vi os jovens a correrem desenfreados para as bancadas em socorro dos pais. A gravidade da situação levou a que fôssemos aconselhados a recolher rapidamente aos balneários e lá ficássemos fechados. Quase duas horas encarcerados, com muitas pedras a caírem no telhado do balneário e gritos de ameaças. Por fim, a GNR chegou e escudou-nos até ao autocarro para que pudéssemos regressar. Momentos de terror autênticos.
(Campos/pavilhões complicados sempre existiram. No século XXI não se justificam estes comportamentos, porque na formação o público é constituído maioritariamente pelos familiares dos atletas, que devem dar o exemplo de bom comportamento e educação.)

4 – Campeonato distrital de juniores. O jogo decorria normalmente e a minha equipa vencia por 2-0 na situação de visitante. Numa saída de bola pela linha lateral, o atleta adversário fez o lançamento com outra bola que rapidamente apanhou. A primeira bola tinha ficado a meus pés. Quando a devolvi, rasteiramente, para o banco dos visitados, eis que sou surpreendido com a atitude patética do treinador adversário. De braços abertos e virado para a bancada, começou a dialogar com o público:
– "Já viram que estes gajos da cidade vêm para aqui gozar connosco?! A bola estorvava-lhe e teve de a enviar para aqui para me distrair". O meu espanto era total e fiz-lhe a sinalética de que ele era tolinho. No final do jogo, e já na zona do túnel, veio pedir-me desculpa pelo sucedido, dizendo que nada tinha contra mim, mas que, perante a derrota, "convém agradar aos pais com estas atitudes"!
(Muitos agentes desportivos, entre os quais treinadores, utilizam a manipulação dos pais e atletas para a sua agenda pessoal. Na escolha do perfil de treinador de formação deve constar o saber ser e estar.)

5 – Campeonato de sub-10. Era uma criança com uma paixão enorme pelo futebol e com potencial reconhecido por todos. Por norma, era a mãe que o levava aos treinos e jogos. No primeiro jogo a que foi assistir, o pai passou toda a primeira parte a dar indicações ao filho. Este estava quase imóvel e de semblante fechado. No intervalo, quando o abordei para saber porque estava ele triste e parado, respondeu-me:
– "Mister, o meu pai não se cala, está sempre a dizer o que devo fazer ou não. Não consigo jogar assim". Falei com ele, dizendo para tentar abstrair-se e decidir por ele. No final, conversei com o pai, que se mostrou estupefacto por ter causado esse efeito, já que era precisamente o contrário do que ele pretendia. Pediu desculpa e assim foi: nunca mais deu indicações e passou a concentrar-se no apoio à equipa.
(Devemos abordar educadamente os pais e transmitir-lhes que quando estão a dar instruções ao filho, da lateral, estão a distraí-lo e a criar nele uma grande confusão.)

6 – Campeonato Nacional de Iniciados. A época começava e, nos dois primeiros jogos, a equipa não tinha ainda tido o desempenho esperado por muitos pais. Depois da segunda derrota, leio a crónica do jogo num Jornal Regional. O "jornalista" comentava o meu trabalho de uma forma tendenciosa, mandando autênticos recados. Procurei quem tinha assinado o texto para lhe dizer que não aceitava aquele tipo de recados. O autor do texto e quem assinara não eram a mesma pessoa. O texto, que eu fiz questão de partilhar no meu Facebook, tinha sido escrito pelo pai de um atleta (o que para mim já não era propriamente novidade), a fazer de treinador com preferência para que o filho jogasse.
(Os pais são muito importantes no acompanhamento dos filhos na prática desportiva. Podem colaborar em várias atividades do clube como transportes, angariação de fundos, logística, mas NUNCA na área técnica.)

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Ética no desporto e na vida

Nos dias de hoje em que o homem cada vez mais se vê confrontado com situações que poem em causa os seus valores, torna-se pertinente discutir em todas as suas atividades as questões éticas. O desporto, como não podia deixar de ser, não escapa a esta realidade, quer seja através de atos isolados ou da própria configuração organizacional.


Os líderes das grandes organizações desportivas, como por exemplo o Comité Olímpico Internacional e a FIFA, foram acusados de atos de corrupção e favorecimentos em troca de benesses. Quando os homens que ocupam os cargos de gestão são suspeitos de corrupção, pode-se ter a certeza que a própria atividade tem falta de moralidade e que os seus agentes não têm uma vivência ética. No entanto reconheça-se que estas pessoas não surgem do nada – fazem parte de um «aparelho» que os conduziu a estes lugares. Quando assim é, torna-se difícil a aplicação da ética no desporto. Mas não se pode desistir de o consagrar.
Na verdade é consabido, que não existe desporto sem ética – será sempre outra coisa, mas não desporto. Assim, deve-se questionar sobre as vantagens efectivas dum desporto praticado e gerido com ética. E estas são relevantes para todos. O desporto que é também uma atividade económica de relevo, só pode obter benefícios com a criação e implementação de mecanismos de transparência nas suas decisões. Os princípios de ética são transversais a todos os agentes do desporto: praticantes, treinadores, árbitros, dirigentes, jornalistas, pais, empresários, espetadores, massagistas/médicos e entidades desportivas.
No desporto os melhores saem mais vezes vencedores. O espetáculo desportivo é melhor e mais atrativo, se houver verdade desportiva e o público manifestar confiança nos resultados. Os patrocinadores aumentam quando acreditam que não há viciação nos resultados, uma vez que, as grandes empresas conhecem as vantagens de se aliarem ao desporto. O adepto vai ao espetáculo se puder ser acompanhado pelos seus e viver o jogo pelo jogo, torcendo obviamente pelo seu atleta, pela sua equipa. A comunicação social vende mais porque a atividade mobiliza mais público e desperta interesse. A TV paga mais pelos direitos, quando o espetáculo é de qualidade. Os políticos são bem-sucedidos ao proporcionarem uma vivência desportiva, em todas as suas vertentes aos seus concidadãos.

A educação para a ética deve iniciar-se no 1.º ciclo escolar e depois no clube com a transmissão de valores éticos. A formação do jovem atleta deve ter sempre em conta a construção da sua personalidade, onde a preocupação com os princípios éticos é fundamental. Escusado será dizer que, o que o jovem aprende do comportamento ético no desporto, deve ser primeiro praticado. Aqui é grande a responsabilidade de treinadores, dirigentes, familiares e público em geral.
É através do seu próprio comportamento que fazem com que o jovem se lembre dele para toda a vida. A relação (treinador/dirigente/adepto com o jovem atleta) pedagógica é uma função ética e deontológica que tem de ser assumida por todos os agentes envolvidos na formação desportiva.
As verdadeiras questões éticas devem assumir uma relevância decisiva no desporto. Os valores que transmitimos na formação desportiva às crianças e jovens são transpostos para a vida.
A legislação deve assegurar o comprometimento de toda a verdade desportiva. Os praticantes profissionais devem respeitar as regras do jogo e da competição, evitando a teatralidade com intuito de alterar a verdade desportiva. Os pais devem ter uma relação correta e cooperante com todos os outros agentes que intervêm no processo de formação do filho. Os treinadores devem ser o exemplo impoluto de que a qualidade e o trabalho, são as únicas ferramentas para se ser melhor e vencer mais vezes. Os clubes, dirigentes, árbitros, empresários devem proporcionar condições de uma prática/competição desportiva séria e verdadeira.
O tratamento que inúmeros Meios de Comunicação Social (com maiúsculas!) dão ao desporto, fomenta a guerrilha e o ódio, premiando o «chico-espertismo». O que temos vindo assistir chega a ser repugnante. Alterar mentalidades para o exercício de condutas mais éticas leva tempo, e esse trabalho já devia estar a ser realizado, para assim criarmos adeptos mais exigentes e com o mínimo de … bom gosto! A falta de ética no desporto é uma prática que corrói, e vai acabar por destruí-lo no que tem de mais importante para oferecer: competição, amizade e cooperação.
Quando agimos no interesse dos outros, o nosso comportamento em relação a eles é inevitavelmente positivo. O contrário também se aplica.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

"Faz o que eu digo, não faças o que eu faço" já era


A participação dos jovens no desporto é um tema frequente, existindo, no entanto, um desfasamento entre o que se diz ou escreve e os atos praticados por todos os agentes envolvidos.
Vivemos, cada vez mais, num mundo globalizado, em que a mediatização do desporto profissional ajuda a criar expetativas e transmite uma imagem de que só a vitória e o ser campeão é valorizado. Os insucessos são sempre referidos como incompetência e servem para chacota. As redes sociais são eco de clubites exacerbadas e de falta de cultura desportiva, mesmo por quem tem prática desportiva. Agentes desportivos excedem-se quando a discussão incide sobre o seu clube, sobretudo se for um dos denominados "3 grandes". Treinadores, atletas e dirigentes tomam como suas as dores dos clubes de Lisboa e Porto, sem se aperceberem do ridículo em que caiem.
Não existem pessoas boas que no desporto são más. Existem pessoas que não sabem comportar-se. Ponto. Não vale de nada estar sempre com a retórica de que "até é boa pessoa, mas no desporto transtorna-se". Não sabe estar no desporto. A emoção e a paixão que o desporto provoca não servem de desculpa para nada. Quem mata a companheira, também o faz por amor?!!!
É neste ambiente que a formação se desenvolve. É o exemplo que se transmite. Do futebol das redes sociais e dos paineileiros para os campos não existe filtragem.
Daí, também, serem normalmente os pais que vivem os jogos como se fossem eles que estivessem a jogar os que tendencialmente insultam os árbitros, sejam eles árbitros adultos ou, mais absurdo ainda, jovens que estão a iniciar a atividade. Em casa repreendem os filhos quando dizem asneiras e não permitem que se insultem pessoas, mas quando estão no jogo os princípios de educação enunciados em casa desaparecem.
A pergunta da criança é, "mas afinal dizem-se ou não se dizem asneiras?! Insultam-se ou não se insultam pessoas?" Nada é mais educativo que os exemplos, e não é com maus exemplos que melhor educam. Se acreditamos que o desporto para os mais jovens é um processo educativo e formativo, todos devemos contribuir para essa finalidade, a começar pelos pais.
É necessário aprender a conviver com esta realidade: todos somos potenciais desestabilizadores, mas, com valores humanos e uma educação adequada e atempada, podemos enfrentar a situação com êxito e fazer com que esta sucessão de problemas tenha um impacto mínimo.
"Faz o que eu digo, não faças o que eu faço" é um ditado popular que não serve de modelo de transmissão de valores para os filhos, pois o exemplo é o que se apreende e marca.
As crianças apreendem com maior frequência aquilo que vivenciam do que aquilo que lhes é dito. Se forem constantemente confrontadas com maus exemplos, vão acabar por tomá-los como bons, pois é a realidade em que se encontram.
Os pais devem transmitir aos filhos que estes têm de dar o melhor de si mesmos para superar os obstáculos e não esperar que o adversário fraqueje ou que ocorra uma influência externa. O objetivo pode ser vencer, mas todos temos de ser melhores, de evoluir diariamente.
A criança/jovem tem direito, tem mesmo a necessidade, de sonhar. O crescimento implica várias fases. O sonho está, e deve estar, sempre presente no seu desenvolvimento. O sonho começa a traçar um caminho, estimula a criatividade e abre novos horizontes.
Uma meta que possa não ser alcançada não é definitivamente um fracasso. Nem sempre somos os melhores. O campeão não é o que não cai, mas sim o que se levanta a seguir à queda.

Desenho de Paulo Medeiros

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Carta aberta a todos os jovens que sonham ser profissionais de futebol

Começo esta carta por vos perguntar se conhecem algum atleta, à exceção do Cristiano Ronaldo, da foto em anexo, que representa a seleção portuguesa de Sub15 do ano 2000? Esta é a foto da sua 1.ª internacionalização.


Porque partilho esta foto aqui?!
Conseguem identificar mais algum jogador a não ser ele?
– Não!!
Então que podemos concluir?
Se estes eram os melhores jogadores com 15 anos em Portugal naquele tempo e não jogam sequer na 1.ª liga portuguesa, é porque se “perderam” no caminho. Quem os escolheu, o seu selecionador, fê-lo com a certeza de que estes eram dos melhores. E eram. Outros há que nunca foram à seleção e que são agora atletas de sucesso.
É que o desporto, neste caso o futebol, é um caminho muito longo e não chega ter potencial. É preciso acreditar, querer, superar adversidades. Não há receitas mágicas no desporto. Todos queremos ganhar – sempre. Até nos treinos. Mas primeiro temos de ser competitivos para ganharmos mais vezes.
E esse ganhar só se traduz numa palavra: sucesso.
E o sucesso é serem felizes por fazerem aquilo que gostam de fazer: seja lá o que for. Mas que seja sempre uma escolha feita por vós.
Sempre houve diferenças entre equipas e sempre vai haver. Dificuldades que superaram umas vezes e outras não. Ganharam menos vezes por serem os mais novos, por exemplo, contra os mais velhos?
– Sim, mas ganharam mais do que perderam e ainda evoluíram no fator mental, no fator do pensar o jogo, que vai fazer toda a diferença no vosso caminho, se o desporto fizer parte do vosso futuro.
Nem todos vão chegar ao fim do caminho, mas não deixem de o percorrer. Mesmo que vos digam que já lá chegaram, por uma ou outra vitória, ou que não chegam lá, por uma ou outra derrota. Ainda vos faltam muitas horas de caminho. E são vocês que decidem se querem continuar ou não.
Não deixem que vos usem como troféus pontuais.
Hoje vocês podem estar numa equipa B e devem entender isso como um passo que tinham de dar no vosso caminho. Pode-se ir pelo caminho mais longo, pode-se ir por um com menos curvas, mas o destino é igual para todos vós. Lutem pelas oportunidades e agarrem-nas.
Na vossa qualidade nem vamos falar. É por demais evidente.
Se forem aos campos que estão ao vosso lado e onde competem crianças entre os 7 e os 12 anos, verão que estão lá muitos CR7. Muitas crianças que são induzidas, como alguns de vós foram, a pensar que já são atletas e que é só uma questão de deixar passar os anos. Errado!
Vocês – hoje – quando olham para trás, sabem disso. E só têm 15 anos!! Já viram muitos amigos a ficarem pelo caminho e outros a aparecerem sem contarem. É tudo uma questão de trabalho, dedicação e de algum sacrifício, mesmo.
Eu, como treinador, fui campeão distrital vários anos e não era o vencedor que sou hoje.
Estou sempre a torcer por todos vós nessa paixão. Não deixem que ninguém vos roube o direito que têm de sonhar. Não vão em elogios fáceis nem em certezas de quem as não pode garantir. Façam as vossas escolhas; as vossas, não as de outros. E depois… acreditem, queiram, superem adversidades. Sejam felizes por estarem a fazer aquilo que gostam de fazer!

terça-feira, 7 de maio de 2019

Mercadoria Humana

O tráfico de seres humanos é uma das maiores violações dos Direitos Humanos, pois configura uma forma de escravidão, quer seja sexual ou laboral, que se aproveita da pobreza de sociedades localizadas na sua maioria em África ou na América do Sul.
A comunicação social tem dado, nas últimas semanas, maior visibilidade a casos de tráfico de seres humanos no futebol. Surpresa para muitos e confirmação para outros?!
O sonho de muitos jovens de ser jogador profissional de futebol leva‑os a acreditar em promessas de empresários que mais não são que exploradores de sonhos. Os clubes pactuam ao receberem estes atletas por entenderem ser uma mais-valia desportiva. Conjuga-se assim a ganância do dinheiro com a da vitória desportiva.
Os jovens atletas são aliciados para jogar na Europa, pagam milhares de euros a intermediários por promessas de grandes contratos e de um futuro melhor. Portugal é a porta de entrada. Muitos são abandonados, passam fome e falta de teto para dormir.
Pensamos que a escravatura é coisa do passado, o que não corresponde à verdade. Hoje, estes jovens são aliciados para a aventura na esperança de uma vida melhor, através da prática desportiva, e acabam por ser escravos dos tempos modernos.
Esta exploração laboral não pode ser ignorada pelo Estado que tem mecanismos que lhe permitem atuar a nível criminal e reportar às Instâncias desportivas para que penalizem todos os intervenientes nestes casos. A sanção desportiva tem de estar presente e ser dissuasora.
A falência dos clubes e a sua sede de ganhar contribuem para este “mercado”. Formar atletas e proporcionar aos jovens locais a prática desportiva não dão tanto protagonismo como uma vitória, mesmo que efémera e sem sustentabilidade.
Dados do Observatório do Tráfico de Seres Humanos revelam que, entre 2015 e 2017, houve 15 vítimas deste “negócio” no futebol. Acredita-se que o número pode aumentar este ano.
Torna-se urgente criar uma estratégia que combata os grupos organizados que vendem ilusões e lucram com os sonhos de tantos jovens futebolistas. O modus operandi é igual ao de outras situações de exploração laboral: sonegação de documentos e cativação de rendimentos, que colocam estes jovens em total dependência de terceiros.
O desporto é um veículo de transmissão de valores positivos para a plena formação do indivíduo e está dotado de projeções benéficas para o todo social. Por isso, estas situações de escravatura têm de ser erradicadas de vez com severas punições para quem as pratica.



Texto de Vítor Santos
Desenho de Paulo Medeiros



Os pais também jogam

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