sexta-feira, 30 de maio de 2025

O desporto merece mais do que esta hipocrisia coletiva

Os casos de violência no desporto persistem e são, cada vez mais, o espelho da sociedade em que nos tornámos. É grave, e devíamos preocupar-nos. Vários casos como os que se têm repetido deveriam obrigar quem de direito a refletir seriamente e a agir com firmeza. Mas continuamos a fingir que não é connosco.

Não é um exclusivo português, é verdade. Mas é em Portugal que vivemos e é aqui que devemos intervir. Já o escrevi antes: nada, absolutamente nada, justifica a violência – e só nos indignamos quando ela nos toca diretamente.
A sucessão de episódios é clara. O ambiente tóxico em muitos espaços desportivos tornou-se banal. No desporto de formação, onde o ego já ocupa demasiado espaço, há situações que exigem a presença das autoridades para proteger crianças e jovens.
É isto que está em causa.

Há ainda demasiados profissionais que repetem comportamentos inaceitáveis – e que continuam impunes. Cabe aos clubes e às entidades reguladoras penalizar quem insiste em manchar o jogo com atitudes vergonhosas. A isto juntam-se adeptos que invadem os campos, confrontam árbitros ou atletas e, por vezes, cometem verdadeiros crimes, aos olhos da lei e da ética desportiva. Ainda assim, estas atitudes são frequentemente romantizadas, como se fossem sinal de paixão pelo clube. Não são.
São atos de descontrolo, de incitamento ao ódio, de falta de civismo e, pior ainda, de um exemplo tóxico que se tolera e, em certos casos, até se aplaude.

É inadmissível ver atletas a pisarem adversários, a encostarem a cabeça aos árbitros, a simularem faltas ou a provocarem sistematicamente. Todos podemos ter um mau momento. Mas quando o comportamento se repete, deixa de ser um acaso – passa a ser um padrão. E isso não se pode aceitar.



As redes sociais, longe de serem um espaço de reflexão ou debate, tornaram-se amplificadores da violência e do ruído. Dão palco a quem não gosta verdadeiramente de futebol – e até a quem não percebe nada de desporto. Promovem o extremismo, o insulto, a intolerância. O que se publica nas redes ou se discute em programas de entretenimento com o futebol como pano de fundo não tem credibilidade. E muitos dos protagonistas desses espaços nem sequer aparecem quando o erro os favorece.
O erro faz parte do jogo. Sempre fez e sempre fará. Por muito que custe aceitar determinados lances ou decisões, não é com escândalo nem com histeria que se melhora o desporto. É com trabalho. É com cultura desportiva. É com ética – ou seja, com respeito pelo jogo e pelos seus valores.

De pouco serve indignarmo-nos quando perdemos e celebrarmos sem pudor quando ganhamos sem mérito. O desporto merece mais do que esta hipocrisia coletiva.


#educarosonho #respeito #valores #ética #amizade


 

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Bitoques e campos da bola

 Raramente — muito raramente — um domingo no campo da bola se resumia a ver um jogo.

Aquilo era mais. Muito mais.

Era ritual. Era encontro. Era herança.

Juntavam-se gerações…

O avô, o pai, o neto — todos lados a lado, na bancada improvisada, no monte de terra, no

penedo!

Mais do que futebol, era identidade.

Mais do que golos, era pertença.

Os clubes… ah, os clubes!

Não eram só camisolas, não eram só emblemas.

Eram motores de transformação —

formadores de gente,

inclusivos, solidários,

capazes de levantar a autoestima de uma terra inteira com um golo aos 89.

Ali respirava-se a alma de um povo.

Um povo que encontrava naquele momento — naquele domingo frio, ou soalheiro —

uma razão para sorrir, para vibrar, para dizer: esta é a minha gente!

Nos dias de geada, acendiam-se fogueiras.

À volta delas, castanhas a estalar e mãos a aquecer.

O bar? Ah, o bar era ponto de encontro —

fumo cerrado, homens de copo na mão, histórias contadas sem pressa.

As mulheres? Ficavam cá fora. Nos carros a fazer renda!

Trazia-se-lhes um sumo, talvez, mas aquele espaço... era deles.

Um reduto rude, sim.

Mas com uma generosidade que morava por baixo da calça de cotim e do boné de feltro.

Não havia rivalidades no bar.

Ali bebia-se. Conversava-se.

E colaborava-se para que o intervalo durasse o tempo suficiente.

Nalguns campos, o bilhete era cortado à saída e... voltava a servir para a segunda parte.

Não era desonestidade — era confiança.

E confiança havia, fosse-se da casa ou de fora.

Em Repeses, o intervalo dava para tudo — até para ir ao pinhal apanhar míscaros.

Levava-se o saco no bolso.

Os mais velhos guiavam os passos e apontavam os comestíveis.

Em Vildemoínhos, com a proibição da venda do álcool nos campos, montou-se uma cortina a

esconder o bar.

A polícia fingia que não via… às vezes.

À entrada, vendiam-se tremoços e amendoins.

As tortas?! Eram para levar para casa — luxo de tempos apertados.

E depois vieram as bifanas!

A correria ao bar ganhou outra velocidade.

Perdia-se o início da segunda parte, sim…

mas ganhava-se aquele sabor quente e gorduroso que sabia a festa.

O Campo 1.º de Maio, no Fontelo, não tinha bar.

Era para os miúdos, para os que ainda sonhavam.

Mas mesmo aí… havia quem escapasse ao “Malhado” para manter viva a tradição.

Nos campos da bola…

celebrava-se a diversidade.


E era no bar — imagine-se —

que essa celebração mais se via.


Vitor Santos

segunda-feira, 12 de maio de 2025

CLUBES DE VISEU

CLUBES DE VISEU
Cubes do conselho de Viseu que estão e/ou foram filiados na Associação de Futebol de Viseu

- Nome e data de fundação


ACADÉMICO VISEU F C (2006)
ACADÉMICO VISEU F C SAD (2013?)
ACD CASA BENFICA VISEU (2003)
ASDREQ-ASS SOCIAL DESP REC EDUC QUINTELA ORGENS (2001)
ASS SOLIDARIEDADE SOCIAL REC DESP VILA CHÃ SÁ (1987)
ATLETICO CLUBE TRAVANCA (1942)
CENTRO SOCIAL CULTURAL RECREATIVO E DESPORTIVO LEÕES DA BEIRA DE RIO DE LOBA (1995)
CLUBE FUTEBOL OS REPESENSES (1928)
CLUBE FUTEBOL VIRIATOS (2005)
DINAMO CLUBE ESTACAO (1970)
FUTEBOL CLUBE DE RANHADOS (1963)
GRUPO DESPORTIVO CULTURAL RECREATIVO E SOCIAL VILA SILGUEIROS (2002)
LUSITANO FUTEBOL CLUBE VILDEMOINHOS (1916)
SPORT VISEU E BENFICA (1924)
VISEU 2001 ADSC (2001)
VISEU UNITED FOOTBALL CLUB (2010)
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ACUDES - ASSOCIAÇÃO CULTURAL DESPORTIVA E SOCIAL SERNADENSE (1986)
ASORCA - ASSOCIAÇÃO SOCIAL RECREATIVA E CULTURAL DE CABRIL (1994)
ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE VISEU (1982)
ASSOCIAÇÃO CULTURAL RECREATIVA DESPORTIVA E SOCIAL DE CÔTA (1998)
ASSOCIAÇÃO CULTURAL E RECREATIVA PASSILGUEIRENSE (1988)
ASSOCIAÇÃO CULTURAL RECREATIVA E SOCIAL DE PASCOAL (1999)
ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA E CULTURAL DE SÃO JOÃO DE LOUROSA (1980)
ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA E RECREATIVA CULTURAL "OS POMBOS PRETOS" (2003)
ASSOCIAÇÃO DE ESTUDANTES DO INSTITUTO PIAGET (2001)
ASSOCIAÇÃO DE FUTEBOL DE SALÃO DE VISEU - CULTURAL DESPORTIVA RECREATIVA E SOCIAL (1999)
ASSOCIAÇÃO RECREATIVA E CULTURAL DE BARBEITA (1982)
ASSOCIAÇÃO RECREATIVA E DESPORTIVA OS POVOENSES (1996)
ASSOCIAÇÃO SOCIAL CULTURAL DESPORTIVA DE LUSTOSA (1992)
ASSOCIAÇÃO DE SOLIDARIEDADE SOCIAL RECREATIVA E DESPORTIVA DA FREGUESIA DE FARMINHÃO (1985)
ATLÉTICO FUTSAL CLUBE DE VISEU (2002)
BALSA NOVA - ASSOCIAÇÃO SOCIAL CULTURAL DESPORTIVA E RECREATIVA (1989)
CENTRO CULTURAL DO CAMPO (1981)
CENTRO DESPORTIVO RECREATIVO E CULTURAL DOS BAIRROS UNIDOS DA BALSA (1979)
CLUBE ACADÉMICO DE FUTEBOL (1917)
CLUBE ACADÉMICO DE FUTEBOL - FUTEBOL SAD (2002)
CLUBE ATLÉTICO DE FUTEBOL (1942)
CLUBE DESPORTIVO DA BALSA (1929)
CLUBE DESPORTIVO E RECREATIVO TRAVASSOENSE (1975)
CLUBE DE FUTEBOL "OS BODIOSENSES" (1943)
GRUPO CULTURAL RECREATIVO E FUTEBOL CLUBE DO PORTO E VISEU (1926)
FUTEBOL CLUBE DE VISEU (1932)
DESPORTIVO DE BRITAMONTES (2000)
GRUPO DESPORTIVO BRIOSA PEXTRAFIL (1963)
GRUPO DESPORTIVO DE ABRAVESES (1962)
GRUPO DESPORTIVO DE CALDE (1984)
GRUPO DESPORTIVO CULTURAL E RECREATIVO DE PARADINHA (1977)
GRUPO DESPORTIVO CULTURAL E RECREATIVO DE SILGUEIROS (1974)
GRUPO DESPORTIVO E CULTURAL DA SOÍMA (1984)
GRUPO DESPORTIVO DE FAÍL (1975)
GRUPO DESPORTIVO DE FARMINHÃO (1974)
GRUPO DESPORTIVO JUVENTUDE DE LOUROSA DE BAIXO (1988)
GRUPO DESPORTIVO LEÕES DA BEIRA (1951)
GRUPO DESPORTIVO E RECREATIVO DE MUNDÃO (1981)
GRUPO RECRETIVO CULTURAL E DESPORTIVO DE VILA NOVA DE CAMPO (1982)
GRUPO UNIÃO DE FUTEBOL (1911)
OPERÁRIO FUTEBOL CLUBE (1945)
RANCHO FOLCLÓRICO "AS COSTUREIRINHAS DE CAVERNÃES" (1976)
SPORT LISBOA E TRAVASSÓS (1941)
SPORT RIBEIRA VIRIATO (1911)
SPORTING CLUBE DE RANHADOS (1928)
TRIUNFO FUTEBOL CLUBE DE FIGUEIRÓ (1929)
UNIÃO DESPORTIVA LOUROSENSE DA FREGUESIA DE SÃO JOÃO DE LOUROSA (1992)
UNIÃO FUTEBOL CLUBE DE LUSTOSA (1975)
UNIÃO OPERÁRIA DE SÃO MARTINHO (1971)
VISEU FUTEBOL CLUBE (1990)
VITÓRIA FUTEBOL CLUBE DE ABRAVESES (1926)


A imagem é da camisola dos Olímpicos da Sé (clube que participava nos torneios da Direção Geral dos Desportos)

Olímpicos da Sé 


 

 

Fonte: Futebol de Viseu (Carlos Costa)  
           Página da AFV 

                                                                                                               12 de maio de 2025

terça-feira, 29 de abril de 2025

Mãe de atleta

As mães que acompanham os filhos no desporto são incansáveis. Com um amor imenso e uma dedicação sem limites, tornam-se adeptas apaixonadas — aquelas que não só apoiam, mas também vivem intensamente cada momento. Nos dias de treino, os finais de tarde são uma verdadeira maratona, correndo contra o relógio entre o trabalho e o compromisso com os horários dos treinos dos filhos. Aos fins de semana, desde as primeiras horas do dia, estão prontas para os levar aos jogos, para estarem ao seu lado em cada viagem. O seu apoio é imensurável, incondicional, e vai muito além do desporto.



Nos momentos de vitória, celebram com o coração cheio de orgulho, sabendo que cada golo, cada conquista, é fruto do esforço e da dedicação. Mas, ainda mais importante, nas derrotas estão sempre lá para oferecer conforto, coragem e, acima de tudo, para ensinar aos filhos que a verdadeira força vem da capacidade de se levantar após cada queda. Essa resiliência, essa coragem para continuar, é uma das maiores lições que as mães transmitem aos seus filhos — não apenas no campo, mas na vida.

Afinal, elas são mães, esposas, trabalhadoras, donas de casa…
Não exageram na alegria nem na angústia. São equilibradas, sabem gerir as emoções e transmitem ao filho a serenidade de que ele precisa para lidar com os altos e baixos do desporto. Sabem que o seu filho atleta é muito mais forte do que ele possa imaginar, e fazem questão de reforçar esse poder interior a cada momento.

A presença constante das mães, quer nos momentos difíceis, quer nos triunfos, vai muito além do futebol. Estão sempre na linha da frente para colaborar com o clube — seja em eventos sociais, em ações de formação ou no exercício de funções de dirigismo.

Sabem o valor da perseverança, da resiliência e do trabalho em equipa. Não só ajudam os filhos a crescer no desporto, como também os preparam para os desafios da vida, sempre com a mesma mensagem: para alcançar o sucesso é necessário esforço, sacrifício e muita determinação.

Essas mães não são apenas espetadoras; são uma verdadeira inspiração.
Mães, não percam essa angústia, esse instinto protetor — mas aprendam a proteger sem exagerar,  transformando o vosso comportamento num motivo de orgulho para os vossos filhos. Não se deixem contagiar pelo que de pior tem o desporto e mantenham-se ponderadas, astutas, marcando a vossa posição de forma positiva e afastando os vossos filhos de ambientes tóxicos e prejudiciais.

Queridas mães, desfrutem dos jogos! Desejem que os vossos filhos sejam felizes no desporto não só quando atingirem a idade adulta, mas em todos os momentos — incluindo o presente. Usufruam de cada etapa, de cada instante. O futuro será o que tiver de ser, mas que seja construído sobre uma escadaria de experiências felizes, divertidas e enriquecedoras.

Neste Dia da Mãe, celebramos estas mulheres extraordinárias que, com tanto amor e dedicação, ensinam os seus filhos a ser campeões — não apenas no futebol, mas também na vida. São elas os verdadeiros pilares que tornam cada passo mais firme, cada conquista mais significativa.

Obrigado, Mãe! Todos os desportistas guardam bem presente esta gratidão.


#EducaroSonho #ética Vitor Santos

sexta-feira, 11 de abril de 2025

A exigência da ética no desporto

 «"Violência, Racismo e Fair Play no Futebol Juvenil Português: Influência do comportamento dos pais no comportamento e empenho dos jovens atletas do futebol juvenil português" é o título do trabalho de investigação de Renato Batista de Freitas em colaboração com a Associação de Futebol de Viseu (AFV).

Apresentado e defendido na The Hague University of Applied Sciences (Países Baixos), retrata as repercussões dos comportamentos no futebol português, nomeadamente no futebol de formação. »



6 de abril de 2025, Diário de Viseu

Batista de Freitas, R., Violence, Racism and Fair Play in Portuguese Youth Football Universidade de Ciências Aplicadas de Haia, 2020.

O desporto merece mais do que esta hipocrisia coletiva

Os casos de violência no desporto persistem e são, cada vez mais, o espelho da sociedade em que nos tornámos. É grave, e devíamos preocupar-...