Tinha apenas sete anos quando o futebol se tornou o centro do meu pequeno mundo. Diziam que eu tinha jeito, que o toque de bola era diferente — e essas palavras, doces e perigosas, começaram a desenhar o meu sonho.
Aos oito já jogava num clube.
Os meus pais estavam orgulhosos.
Eu acreditava que o futuro já estava traçado.
Sonhava…
Vieram os elogios, as expectativas, as observações dos grandes clubes.
Sentia-me o melhor. O futebol era a minha vida — e eu só queria continuar a sonhar.
Mas o presente ficou hipotecado ao futuro.
Com o tempo, o jogo deixou de ser brincadeira.
Aos 13 vieram as exigências. Aos 14, a pressão de mudar de clube e jogar em competições nacionais.
Deixei de dormir bem. Deixei de sorrir. Deixei de ser eu.
O prazer perdeu-se algures entre as comparações e o medo de falhar.
Toda a rotina familiar girava em torno da minha “carreira”.
De titular passei a suplente.
De promessa, a desilusão.
E um dia disseram-me que já não contavam comigo.
Curiosamente… senti alívio.
Porque, no fundo, o que eu mais queria era voltar a ser feliz.
Durante muito tempo acreditei que tinha falhado.
Hoje percebo que apenas segui outro caminho.
O futebol ensinou-me muito — sobre esforço, pressão, dor e superação —
mas, acima de tudo, ensinou-me sobre mim.
Devia ter desfrutado mais da minha infância e pré-adolescência.
Podia agora ser profissional? Talvez.
Mas hoje sei que ser feliz, em todos os momentos, é o meu maior campeonato. 
E, acima de tudo, continuo a ter a minha família sempre presente.

