Escrevo este artigo numa semana marcado pelo suspense da participação do Académico de Viseu no Campeonato Nacional da 2.ª Divisão B. A confirmar-se a extinção do futebol sénior do CAF um vazio nasce em todos os Beirões.
Hoje já pouco interessa como foi possível chegar a esta situação. Não vai resolver nada as lamentações.
Os erros cometidos ao longo de décadas foram muitos e agora resta aprender com eles e não os repetir. Muita gente se envolveu na resolução de um caso que se tornou fatal para o Clube mas que, infelizmente, não é o único. É o mais visível.
O Académico de Viseu é um dos clubes que esta época desiste da competição no escalão sénior. Muitos mais vão acontecer.
Em Março deste ano a Comissão Administrativa alertou para o facto de o clube não ter alternativas no que a receitas diz respeito. Criou mesmo uma situação, que para muitos foi alarmista e despropositada. Afinal havia razões para tal.
Todos somos conhecedores da impunidade que reina neste país, na desorganização e funcionamento do futebol nacional. Ganhar é a única razão da existência dos clubes e muitas das vezes os meios justificam os fins. Algum adepto exige qualidade nos espectáculos desportivos?! Não, se a sua equipa ganhar. Mesmo que seja com um golo marcado em fora de jogo e com a mão!
Existem, na minha opinião, clubes a mais em Portugal. Campeonatos sem competitividade. Estrangeiros em demasia.
Requalificar o CAF num clube regional representativo das Beiras é, ainda, para mim a melhor e única solução. São 5 a 6 anos de deserto que podem ser um investimento de grande rentabilidade desportiva depois desta travessia.
Um clube em Viseu é viável em termos desportivos e financeiros com um plantel sénior constituído, na sua maioria, por jogadores dos escalões de formação e reforçado com os melhores que os outros clubes do distrito produzem. Se juntarmos a este grupo 4 a 5 jogadores que sejam as mais valias estão criadas as condições para se triunfar no futebol nacional.
Porém a mentalidade existente no seio dos clubes, treinadores e dos atletas da região também terá de mudar. Jogar no “Clube da Terra” é, também, uma causa.A participação de todas as Instituições com o novo clube será sempre positivo para todos. A permuta de serviços é hoje um factor relevante de desenvolvimento.
As Câmaras Municipais são hoje as maiores financiadoras dos clubes. Este financiamento deve ser feito de uma forma transparente mas, e acima de tudo, tem de haver uma fiscalização permanente na aplicação que se faz com esse dinheiro.
Os clubes de futebol são hoje os grandes embaixadores das suas localidades. Portugal é um País que tem de se virar muito para o Turismo, pois a Agricultura, Comércio e Indústria estão numa situação de falência. Mudar mentalidades leva o seu tempo. O desporto e a cultura são a base de uma vida de qualidade.
A Câmara Municipal de Viseu tem de ter um Departamento de Desporto com uma equipa motivada e dedicada. A promoção do Concelho passa muito pelo que esta equipa possa fazer nos próximos anos. Um projecto desportivo ambicioso urge.
Um clube da cidade bem estruturado e organizado enquadra-se no desenvolvimento desportivo da região. Acabou o tempo dos amadorismos.
Os dois últimos jogos das Selecções portuguesas em Viseu (sub 18 e sub 21) tiveram o Fontelo quase vazio. Oportunidades perdidas ou desinteresse dos viseenses pelo futebol?! O Fontelo tem um novo espaço desportivo requalificado. O campo de futebol de 7 sintético é um orgulho para todos nós. Não interessa falar em timings o importante é que é deste tipo de instalações desportivas que as nossas crianças e jovens necessitam. É preciso reconhecer que o Fontelo, desta vez, foi valorizado por esta obra. A cidade ficou a ganhar.
Que os Carlos Lopes, as Carolinas Peres, Os Fábios não tenham mais que migrar para praticar desporto de alta competição.
Este fim de semana joga-se em Coimbra um Académica de Coimbra - Benfica para a Super Liga. Alguém tem dúvidas de qual seria a adesão de um jogo destes em Viseu que colocasse o Ac. Viseu e o Benfica na 1.ª jornada da Super Liga?!
Que o futuro nos surpreenda pela positiva, é o desejo de todos nós que gostamos de desporto e estamos inseridos nesta actividade tão bonita e saudável.
Que o futuro nos surpreenda pela positiva, é o desejo de todos nós que gostamos de desporto e estamos inseridos nesta actividade tão bonita e saudável.
in Jornal do Centro de 19 de Agosto de 2005
Bela esperança, a minha
Bela esperança, a minha.
Na vida temos sempre as opções de sermos arriscados, ousados ou de sermos realistas, credíveis. Ambas podem, no entanto,ser compatíveis quando a base de sustentação é forte. Podemos sempre investir mais, mesmo correndo o risco de perder, mas nunca de forma a colocar em causa a vivência de uma Instituição, de pessoas.
O Académico de Viseu deslumbrou-se em décadas anteriores com os feitos desportivos alcançados e caiu na tentação do risco, da ousadia. Esqueceu-se muitas das vezes de ser realista, de saber até onde podia ir.
Sabemos, hoje, que não só o Ac. Viseu cometeu estes erros. O mal é de todo um País. As facilidades são muitas. A irresponsabilidade, a impunidade alastrou-se em demasia. O futebol português está cheio de casos de clubes que não pagam salários, que não pagam a fornecedores, que não pagam impostos, etc.
Defendo a responsabilidade colectiva de toda uma região que tem de exigir qualidade de vida e em que o desporto e cultura são bens essenciais.
Durante o primeiro semestre deste ano o Ac. Viseu viveu na expectativa dos resultados da equipa sénior do clube. Eram estes que decidiam muito do presente e futuro do CAF.
Entretanto duas sensibilidades se foram formando. Os que defendiam uma intervenção clara e definida sobre que Clube a Região queria, e aqueles que deixaram andar para ver até onde se ia.
Atrasou-se todo um processo. Esperemos que ainda se vá a tempo.
Entre a continuidade do Académico de Viseu e a «requalificação» num novo clube, a primeira escolhaé a que mais agrada a todos os viseenses. Um grupo de associados interpretou essa vontade e criou a bela esperança de limpar o clube financeiramente e credibilizá-lo. As Beiras têm mais uma oportunidade de demonstrarem se é mesmo para valer o acompanhamento que têm feito da vida do clube nos últimos meses. É nas grandes tormentas que se vêem as grandes coragens.
Esperamos assim que tenha esta Comissão tido um bom começo, pois seria já meio caminho andado. Mas não louvemos o dia enquanto o sol não se puser.
O Académico de Viseu está hoje mais aberto, mais vivo. A cidade e a região estão agora sensibilizadas e motivadas a apoiá-lo. A presença de cerca de uma centena de associados na última Assembleia é sinónimo de vitalidade e de um clube com história.
A isto muito se deve a abertura que a anterior Comissão teve. Trazer o clube para o Rossio, tirá-lo de uma rua escondida atrás da Sé, foi das melhores opções que se teve. Ainda alguém tem dúvidas que o Académico precisa de uma Sede visível no centro da cidade?! Que precisa de ser vista diariamente por todos os cidadãos?! Quem dirige o clube não é nenhum grupo marginal que se reúne às escondidas para conspirar. É preciso devolver o clube à região e as iniciativas da última Comissão Administrativa foram o primeiro passo. A não deixar morrer.
A página, não oficial do clube, na Internet tem a particularidade de ter um Fórum em que muitos academistas, de todo o mundo, têm sugerido acções bastantes interessantes. Criar com a Escola Superior de Tecnologia de Viseu um site interactivo e moderno é a proposta de um associado. Interessante.
Criar protocolos que permitam a intervenção de alunos das Instituições de Ensino Superior da cidade e das Escolas Profissionais é sinónimo de novas ideias, de novos projectos.
As tecnologias e multimédias, a comunicação social, o marketing, as relações públicas, a enfermagem são campos que uma parceria trazia vantagens a todos.
Os elementos que saíram do Académico tiveram perspicácia e trabalharam com dignidade. Disseram não agora?! É melhor um sincero não, que um falso sim.
A minha relação acabou esta época também. Saio engrandecido e devedor. Fui recebido de braços abertos e estive, como só sei estar, com dedicação e envolvido na resolução de todos os problemas que se me apresentaram.
Retribuí como posso e sei. Mas este foi um ciclo que se fecha. Saio de consciência tranquila, não limpa, porque foi usada. Só pode ter a consciência limpa quem nunca a usou.
Já não há lugar a ingenuidades. O bom rapaz acaba sempre em último e sem nada!
A esta nova Comissão Administrativa muito se lhe vai ser exigido. Espera-lhe um monte de desafios. Que os academistas se unam, é preciso um grupo alargado na gestão quotidiana de todo o clube.
A Escola de Futebol Os Vasquinhos, as Escolas, os Infantis, os Iniciados, Os Juvenis, os Juniores e os Seniores, só no futebol estão envolvidos centenas de crianças e jovens. Estes vão-lhe ficar agradecidos, eternamente, por lhes proporcionarem a prática do futebol no clube que aprenderam a amar.
Há, ainda, esperança. É bela.
in Jornal do Centro (05 de Agosto de 2005)