Exemplo de atleta e ator cívico.
RUI Manuel dos Santos CAÇADOR,
nasceu em Viseu, em 1953 e foi, justamente, nestas terras de Viriato que se
começou a destacar com a conquista do Campeonato Nacional de Andebol Escolar
(1969/1970), em representação da Escola Industrial e Comercial de Viseu (hoje
Escola Secundária Emídio Navarro).
A posição de guarda-redes em que
se destacou, cumpriu sempre os desígnios desportivos do Rui: quer no andebol,
quer no futebol, o seu empenho e entrega alinhavam-se plenamente com a sua
inteligência.
Como atleta foi, então, guarda-redes
da equipa campeã Nacional Andebol Escolar EICV, e no futebol foi guarda-redes do
Sport Viseu e Benfica (Juvenis), do Sport Lisboa e
Benfica (Campeão Nacional de Juniores em 1971/72), do Académico de
Viseu (de 1972 a 1974), do Sport Viseu e Benfica (1974 a 1981) e Instituto
Nacional de Educação Física (tricampeão Nacional Universitário).
Licenciado em Educação Física,
integrou durante muitos anos o Departamento Técnico da Federação Portuguesa de
Futebol.
Apaixonado pelo desporto, o Rui
integrou uma das equipas do Sport Viseu e Benfica que, um pouco contra o que
era comum, não deixou os estudos e migrou para Lisboa, a fim de frequentar o
Ensino Universitário. Lembramos dessa equipa, João Monteiro, José Amaro, Carlos
Jorge, Cartagena, Ferrão, Diogo, Vitó e o Rui são alguns dos atletas que na
época se licenciaram. Uma geração que viveu a transição da ditadura para a
democracia como estudantes universitários e que os vai marcar em termos sociais
e políticos.
Rui Caçador, iniciou a sua
carreira no Viseu e Benfica, que sempre foi o clube do seu coração onde foi
campeão distrital de juvenis. Nesta época o jornalista Carlos Costa
interrogava-se mesmo, porque não era o Rui chamado à seleção nacional
portuguesa, uma vez que já era diferenciado. Nestes tempos Lisboa ficava a muitas horas de
Viseu e estes “miúdos” de 15 anos, praticavam várias modalidades: futebol,
andebol, voleibol, atletismo, etc. Algo
impensável nos dias de hoje.
Quando foi entrevistado sobre o desporto
que mais gostava de praticar, o Keeper viseense confessou: “tenho uma
certa predileção pelo futebol, mas vibro mais no decorrer de um jogo de andebol,
talvez por ser um desporto que tem necessariamente, como condição primordial,
ser disputado num ritmo de maior velocidade”. De certeza que o facto de ser
guarda-redes de andebol e jogador de voleibol, contribuiu para que tivesse sido
um dos melhores guarda-redes de futebol de então.
Nesta altura frequentava o 3.º
ano do Curso Geral do Comércio e quanto ao seu futuro, na altura com 15 anos,
mais uma vez se evidenciava a sua sinceridade e modéstia: “os meus projetos
desportivos são vagos, quase nulos. Se aparecer alguma oportunidade que me
permita não seguir a vida de futebolista profissional, mas sim continuar os meus
estudos, aproveitá-la-ei da melhor maneira.”
A verdade é que o Rui acaba por
ser contratado pelo Sport Lisboa e Benfica e chega mesmo, como treinador, a selecionador
nacional dos sub21. O jovem Rui, que já demonstrava tanta maturidade para a
idade, vai percorrer então um trajeto no futebol que, principalmente, enquanto
treinador é invejável e lamentavelmente pouco reconhecido.
Rui
Caçador, ao serviço do Maxaquene, venceu em 1985 e em 1986 o ‘Moçambola’ (Liga
moçambicana de futebol), tornando-se o primeiro técnico luso a conseguir o
feito.
Como treinador integrou a equipa
técnica de Carlos Queirós, entre 1989 e 1992, período durante o
qual se destaca o título de Vice-Campeão da Europa de Sub-18,
na Hungria (1990), e a conquista do Campeonato do Mundo de Sub-20,
em Portugal (1991). Foi, ainda, adjunto de Filipe Scolari e selecionador moçambicano – Campeonato
Africano das Nações de 1996.
Rui Caçador, interessou-se também
pela política, tendo sido candidato pelo Partido Socialista à Câmara Municipal
de Oeiras e antes do 25 de Abril pertenceu ao MDP/CDE, o que lhe custou a
chamada à tropa e isso mudou toda a sua vida: “Soube mais tarde que o meu
pai, tipógrafo alentejano a viver em Viseu, onde nasci, era do Partido Comunista
na mais pura e dura clandestinidade. Em Viseu não seria fácil ser do PCP.” Ter
uma posição partidária, consta-se que o facto de ser de esquerda o prejudicou
em termos desportivos.
Em 2002 deu nome a uma Escola de
futebol em São Pedro do Sul. A Footlafões – associação académica é pioneira no
distrito das escolas de futebol.
Hoje, por motivos graves de
saúde, teve de se afastar da atividade e da carreira desportiva, para desgosto
seu. Mas Viseu, não pode obliterar um dos seus melhores, e reter um exemplo
único de atleta e ator cívico.
