Seja qual for o nível de prática desportiva que se considere, podemos verificar que tem grandes semelhanças com o desporto profissional, já que é necessário preparar e organizar o jogo para a competição. Os atletas são a parte mais visível destas atividades, mas existe alguém que assume o papel central em todo o processo: o treinador. Há que perceber o grande impacto que um treinador tem junto dos seus praticantes para entender que a sua valorização tem sido esquecida.
Na sua grande
maioria, os treinadores da formação dão mais valor ao facto de estabelecerem
uma relação positiva com os seus atletas do que à sua promoção pessoal. Estes
treinadores consideram que, mais importante do que vencer, é aquilo que os
jovens aprendem na prática desportiva e o prazer que retiram da atividade. Ao
terem estas convicções e os comportamentos correspondentes, a sua interação com
os atletas vai‑se pautar pelos valores do desporto e o seu trabalho irá contribuir
para melhorar significativamente a qualidade de um ambiente desportivo
saudável. No entanto, muitos destes treinadores, jovens ainda, enfrentam grandes
obstáculos ao tentarem atingir os objetivos a que se propõem. Na origem destes problemas
estão a falta de colaboração dos pais, a interferência de dirigentes, pais e
adeptos e a dificuldade em conciliar a sua atividade profissional com o tempo
de treino. É igualmente verdade que na formação, mas não só, ainda temos muitos
treinadores "voluntários".
Infelizmente, há
também um outro tipo de treinadores, os que têm comportamentos desviantes e
irresponsáveis. Atualmente, seja qual for o nível de competição desportiva,
encontramos exemplos de comportamentos desajustados por parte dos adultos,
sejam eles agentes desportivos ou espetadores. É geralmente reconhecido que a forma
como os adultos participam no desporto deriva da ligação que eles estabeleceram
com o desporto durante a sua juventude. Não há grandes dúvidas acerca dos efeitos
a longo prazo que a prática desportiva exerce sobre as crianças e jovens.
Se a cultura
desportiva em que estes adultos foram formados assenta na obtenção de resultados
imediatos, na hostilidade e na intimidação, eles não irão gostar do jogo. Eles
não irão sequer perceber os princípios do jogo porque viveram o desporto num
contexto de desprezo pela ética e pelo fair-play. Por isso assistimos
demasiadas vezes a cenas lamentáveis envolvendo agentes desportivos e adeptos.
Quando
escutamos ou lemos notícias sobre certas personagens, devemos lembrar-nos de
que eles são o produto do contexto em que foram gerados e que não tiveram, nem
quiseram ter, a capacidade para perceber O jogo. Escolheram o caminho mais
fácil.
Ao longo do
tempo, investiu-se muito pouco ou mesmo nada no comportamento. Porém, os
valores do desporto não nascem de geração espontânea. Precisam de ser
trabalhados desde a base e em permanência, antes, durante e depois de cada treino
e de cada jogo. Não é de certeza o caminho mais fácil, mas é seguramente o mais
gratificante.