Todos concordamos que sim. Mas a verdade é que os conflitos em jogos da formação não param. São frequentes as contestações dos adultos, sem razão que as justifique. Há protestos porque o árbitro apitou, porque o árbitro não apitou, porque o adversário foi mais impetuoso num lance, porque o treinador não colocou o filho a jogar mais cedo, ou porque o tirou do jogo cedo demais, porque o colocou a jogar numa posição diferente, porque a culpa é sempre do avançado, porque o filho, sendo guarda-redes, nada poderia fazer para evitar o golo sofrido, ou porque, como avançado, não marca sem a ajuda dos colegas, porque a falta era claríssima… e por aí fora.
A agressividade que se manifesta
nos gritos, nos insultos e na falta de fairplay tende a aumentar na
mesma medida em que cresce a "necessidade" de vencer. No fundo, o que
parece importar a muitos destes pais é ganhar, ver o seu filho marcar golos. Trata-se
de uma verdadeira batalha pela vitória, ou pela rejeição da derrota, onde
muitas vezes o interesse pelos filhos fica em segundo plano. São os próprios
pais que, no fundo, sentem que ganham ou perdem, como se estivessem eles
próprios dentro de campo. Precisam dessas vitórias como se lhes pertencessem,
como se estivessem a disputar um segundo jogo, paralelo, ali mesmo nas
bancadas. A questão que se impõe é: quem grita mais alto? quem se faz notar? quem
conta a piada mais sarcástica? quem demonstra melhor conhecimento das regras? quem,
supostamente, seria um árbitro mais competente? Ou ainda: quem insulta com mais
"jeito"? É evidente que, para muitos pais, o jogo dos filhos se resume
a ganhar ou perder. O filho, na visão destes adultos, é quase como o único jogador
em campo, o centro de tudo o que acontece. E quando não joga, pouco importa o
resultado: mesmo que a equipa ganhe, prevalece a ideia de derrota só porque o
filho não jogou (ou jogou pouco).
Ao mesmo tempo que se proclama – e bem – que a formação deve centrar-se no desenvolvimento da coordenação motora, na aprendizagem e compreensão do jogo, na evolução técnica e tática, no conhecimento das regras e no comportamento ético dentro do campo, a realidade mostra-nos outro lado. O que ouvimos com frequência é uma verdadeira batalha verbal ("são todos uns ladrões", "vai para a barraca", "parte-lhe uma perna", "vai para a tua terra, ó palhaço!") que caracteriza o "jogo" dos pais na bancada. A primeira frase agressiva dá o tom, e daí em diante é um escalar de provocações e ofensas, numa espécie de competição de quem é mais "engraçado" ou mais ofensivo. E porque ninguém se acha merecedor de correção – pois acredita que sabe tudo e que o seu comportamento não precisa de ser revisto –, esta escalada de agressividade só termina (e nem sempre) com o apito final do árbitro. Este é, sem dúvida, o desafio mais difícil de ultrapassar: ajudar estes adultos a reconhecerem a necessidade de mudar a sua postura.
Acredita-se que os pais que
assistem a formações sobre ética e integridade são os que menos comportamentos
insultuosos e agressivos têm na bancada. Se os adultos fossem estimulados a
conhecer opiniões dos praticantes acerca dos seus comportamentos iriam ouvir: "não
grites tanto", "deixa-me jogar em paz", "só
me envergonhas". Ou seja, a melhor forma de lutar contra a violência e
a falta de respeito dos pais no desporto de formação é eles verem-se através
dos olhos dos seus filhos e perceberem o péssimo exemplo que lhes estão a dar. Pensem
nisso!