Queridos pais,
antes de mais, deixo-vos os parabéns: estão presentes, acompanham os vossos meninos, as vossas meninas. Estão lá. Que bonito é amar assim.
Quando eu era criança, era eu que estava lá em campo e tinha os meus pais na bancada em todos os jogos. Todos. Fosse onde fosse. Era tão feliz sempre que entrava e os via lá. Sentia-me amado, seguro, apaixonado por quem estava apaixonado por mim. Todas as crianças são apaixonadas pelos pais que as amam. Que emocionante é ser o filho dos nossos pais.
Mas não esqueçam: os vossos filhos não precisam que gritem. Não precisam que dêem instruções da bancada, não precisam que critiquem o treinador. Precisam que estejam lá. Presentes. Precisam que sejam na bancada o que precisam que sejam na vida: pais. É essa a vossa função. Não é coisa pouca.
Educar é sempre pelo exemplo.
Não há outra maneira. Se uma criança vê o pai levantar-se e a insultar um árbitro, aprenderá que a agressividade é um caminho. Se ouve a mãe a criticar o treinador, concluirá que a autoridade é algo que pode ser colocado em causa. O futebol infantil não tem de ser sobre táticas, resultados; tem de ser sobre aprender a estar em grupo, a perder sem perder-se. Não olhem para os vossos filhos como olham para o Cristiano Ronaldo. Olhem para eles como olham para quem amam a divertir-se. Eles estão ali para brincar com uma bola, para rir, para viver; não estão ali para garantir o sustento da família daqui a vinte anos.
Uma bancada de um jogo de crianças não pode ser um púlpito de raiva; tem de ser uma fábrica de empatia.
Ali, o jogo não vos pertence; pertence aos vossos filhos. Um jogo de crianças é uma metáfora da vida: é correr, tentar, falhar, rir, cair, levantar-se, voltar a cair, voltar a rir, voltar a tentar. A melhor herança que podem dar é mostrar-lhes como se lida com isso com dignidade.
Silêncio pode ser amor. Um aplauso pode ser tudo. Um abraço depois do jogo vale mais do que qualquer instrução gritada. Era isso o que eu tinha do meu pai, da minha mãe, sempre que saía do jogo. O espaço para o abraço mesmo depois da derrota, mesmo depois do jogo mau.
Sejam pais. O futebol agradece. A vida, e o futuro, deles agradece ainda mais.
Pedro Chagas Freitas
