Costuma dizer-se que alguns pais veem nos filhos a oportunidade de concretizar aquilo que não conseguiram alcançar na juventude. São os chamados “jogadores frustrados”, que projetam nos filhos os sonhos que não realizaram. Admito que essa realidade exista em casos pontuais, mas não me parece ser o principal problema. O verdadeiro desafio é outro: a dificuldade em ser pai de um atleta.
A maioria dos pais não está
preparada para lidar com o turbilhão de emoções que o desporto acarreta:
vitórias e derrotas, expetativas e frustrações, sonhos e desilusões. Não há
manual que ensine a gerir tudo isto, e é nesse vazio que surge a insegurança.
Muitos pais sentem-se perdidos perante a complexidade do desporto moderno e não
sabem como apoiar corretamente os filhos.
Um inquérito realizado em
vários países aponta que cerca de 72% dos pais de jovens futebolistas admitem
sentir ansiedade por não saberem como orientar os filhos. Entre a escolha da
equipa certa, as decisões sobre treinos e competições, os conflitos com treinadores,
colegas de equipa ou outros pais, são muitos os momentos em que paira o medo de
errar.
É importante, contudo, não
esquecer que a grande maioria dos pais se comporta de forma exemplar. São eles
que sacrificam fins de semana e noites livres para levar os filhos a treinos e
jogos, que torcem não só pelos seus, mas também pelo resto da equipa, que
colaboram com os treinadores e organizam atividades para manter um ambiente
saudável. Infelizmente, são quase sempre os poucos mais barulhentos e
descontrolados a ganhar destaque, criando uma imagem injustamente negativa
sobre todos os outros.
A pressão acresce com o
impacto da comunicação social e das redes sociais. O mediatismo em torno de
jovens estrelas, que atingem fama e contratos milionários muito cedo, alimenta
a ideia de que o sucesso deve ser imediato. Muitos pais acabam por sentir que,
se os filhos não estão no “caminho da elite” desde muito novos, algo está
errado. Esta perceção é perigosa e, sobretudo, irreal.
Na verdade, o percurso para
o alto rendimento é longo, exigente e cheio de altos e baixos. O que as
crianças mais precisam, nesta fase, não é de pressão, mas de apoio consistente,
de tempo para crescerem ao seu ritmo e de espaço para desenvolverem as suas
capacidades. O papel dos pais deveria ser precisamente esse: transmitir
serenidade e confiança, em vez de ansiedade.
Tal como os treinadores devem
manter a calma durante os jogos para que os atletas possam concentrar-se,
também os pais devem ser uma fonte de equilíbrio. Uma atitude ansiosa
transmite-se rapidamente aos filhos, podendo transformar-se num peso difícil de
carregar. Pelo contrário, se os pais incutirem calma e confiança, os filhos
sentir-se-ão mais seguros, desenvolverão autoconfiança e terão maior capacidade
para lidar com a pressão.
É importante também lembrar
que o desporto não deve ser visto como a única via de realização pessoal. O desporto
pode ser um caminho, mas não pode ser o único. O equilíbrio entre a vida
desportiva e a vida pessoal é fundamental para o bem-estar do jovem. Apoiar os
filhos no campo, mas também fora dele, é a melhor forma de ajudá-los a crescer,
não apenas como atletas, mas sobretudo como pessoas.
No final, é isso que
verdadeiramente conta: que os jovens sejam felizes e realizados, dentro ou fora
do campo. O desporto deve ser uma escola de vida, e o papel dos pais, mais do
que projetar sonhos, é garantir que os filhos têm a liberdade e a serenidade
para viver os seus próprios.
