Pai, ouves estes gritos na minha cabeça? PASSA! REMATA! CORRE! CUIDADO!
É como se estivessem comigo a cada toque na bola, a cada passo que dou no campo… e, de repente, quero fazer tudo ao mesmo tempo. No fim, acabo por errar — não porque não sei, mas porque sinto que estou a jogar não o meu jogo, mas o vosso.
Não sabes o quanto custou escrever estas linhas para ti, mas, depois do meu último jogo, sinto que cheguei ao limite. Preocupa-me que já não desfrute do futebol da mesma maneira… Quando perdemos, sinto que a derrota é mais tua do que minha; e quando ganhamos, também não a sinto como minha.
Pai, peço-te que me deixes jogar os meus jogos. Tu já jogaste os teus, e, se não o fizeste, a culpa não é minha. Não quero ser o reflexo das tuas frustrações.
Outro dia, vi-te furioso enquanto assistias a um jogo na televisão, porque um profissional reclamou ao árbitro e tu o insultaste… Mas fazes o mesmo nos meus jogos. É tão confuso que, às vezes, apanho-me a reclamar como os adultos, e assusta-me pensar que fico sentado no banco por copiar gestos que aprendo com vocês.
Só te peço uma coisa simples: antes de cada jogo, se achares que deves, dá-me os teus conselhos e, quando acabar, indica-me o que posso melhorar. Eu sei que sabes de futebol, e adoraria aprender contigo… mas fora do campo.
Deixa-me viver as minhas vitórias e também as minhas derrotas. Não me tires a criatividade: eu também sei resolver os problemas que os adversários me colocam. A tomada de decisão é minha, por favor!
E, por favor, pai, não me interpretes mal. Quero-te na bancada, junto da mamã, a animar-me com um "VAMOS!", "TU PODES!", "FORÇA!".
Porque, no fim, tudo o que preciso é do teu apoio, não da tua pressão.
