Este domingo, no Fontelo, o Académico de Viseu recebe o Estarreja em jogo da 30.ª jornada. As sucessivas vitórias, que têm alcançado, são motivadoras e espera-se bastante afluência ao jogo. O Académico não depende só de si. Tem de contar sempre com os possíveis deslizes do Sporting da Covilhã e Mafra. No entanto, só o facto de voltar a «puxar» os adeptos ao Fontelo é sinal de vitalidade da equipa.
Rui Bento tem gerido ao longo da época a equipa de uma forma bastante discreta, gerindo muitas incertezas, mas definiu um rumo e tem-no seguido. Conseguir resultados desportivos no meio de tantas incertezas, tem sido apanágio dos técnicos do CAF. Este ano a situação torna-se ainda mais complicado pela quase ausência de atletas de Viseu.
As enormes dificuldades que o clube atravessa «só» podem ser ultrapassadas, rapidamente, com vitórias. No futebol, estas, são os remédios para todos os males.
O facto do clube viver num mar de incertezas é preocupante para os profissionais que o servem, mas tem de ser relevado o profissionalismo que estes têm demonstrado. A subida do Ac. Viseu à Liga Profissional era um tónico importantíssimo para todos que o servem e têm responsabilidades. A fase final do Campeonato não é fácil e será quase um «milagre» o clube subir. Fica a aplicação, o não atirar a toalha ao chão numa época em que os problemas com salários continuam.
Na cidade já se começa a falar no Académico, no campeonato, há expectativas e isso é muito importante para o clube.
A incerteza dos acontecimentos é sempre mais difícil de suportar do que o próprio acontecimento. Cabe a todos nós saber gerir as incertezas. Vivê-las com paixão. Crescemos e ajudamos o clube a crescer com estes momentos.
A existência de problemas de ordem organizacional e de funcionamento do clube têm de ser resolvidos por Técnicos. Estes existem para resolver problemas. Foram criados com essa finalidade. A formação especializada que receberam, teórica e/ou prática, permite-lhes versar estas vertentes. Acreditemos nos Técnicos.
“Qualquer caminho os leva ao destino” provérbio chinês de grande veracidade.
Adeus Sr. Carlos Costa
Não posso deixar de recordar aqui o Sr. Carlos Costa, jornalista que aprendi a ler e respeitar desde cedo. Aqui mesmo neste jornal, neste espaço, transmitia-nos sempre coisas novas.
O Sr. Carlos Costa era uma verdadeira enciclopédia do futebol, do jornalismo regional que nunca deixou de partilhar os seus conhecimentos, de uma forma apaixonada, com quem o procurasse, como foi o meu caso.
Até sempre e obrigado.
in Jornal do Centro (01-04-2005)
Assembleia do Ac. Viseu: não houve inversão
O Académico de Viseu viveu na sexta-feira mais uma Assembleia-geral. As expectativas criadas por um comunicado da Direcção do Clube foram defraudadas. Apareceram meia centena de sócios dos quais muito poucos tinham perfil ou motivação para poder integrar uma nova Direcção.
O comunicado da Direcção, na qual eu estava integrado, falava em futuro. Dizia: caso não haja inversão, não vislumbramos outra solução que não seja a extinção do CAF. Este alerta chocou muita gente. Não se entende porquê, quando são conhecidas as graves dificuldades pelas quais o Clube passa o abandono a que tem sido sujeito.
Esta Assembleia teve o condão de dar a conhecer a vida do clube aos sócios que andavam afastados, mas não serviu para criar uma solução, um tomar de um novo rumo.
Reflicta-se sobre a vivência actual do clube e discuta-se.
Durante a semana, a comunicação social deu voz a muita gente que se pronunciou sobre o CAF. E tanta insensatez no vocabulário usado!!… Falou-se em cancro, leprosos, defuntos que falta de bom senso. Tanta presunção.
O cidadão anónimo, quando escutado pela mesma comunicação social, teve discurso no sentido contrário de quem tem responsabilidade e demonstrou respeito, carinho pela Instituição.
Para os elementos que compõem a actual Comissão Administrativa vai um voto de força para o trabalho que têm pela frente. É gente que merece a nossa consideração; foram corajosos ao assumir a responsabilidade de assegurar condições para que os nossos jovens acabem a época tranquilamente.
Conheço-os, são gente de trabalho, responsáveis, verdadeiros academistas, mas que precisam de se sentir apoiados por todos nós.
Até final da época, e antes dos períodos de férias, o clube tem de ganhar outro rumo. Adiou-se por mais uns dias a discussão sobre a inversão que o CAF tem de fazer.
in Jornal do Centro (18-03-2005)
João Manuel é dos nossos: Força campeão
Conheci o João Manuel em 1977 quando fazíamos parte da selecção de futebol do Distrito de Viseu, que disputou os Jogos Nacionais de Futebol Juvenil, em Santarém. Tínhamos 10 anos. Esta selecção era formada por miúdos de Viseu, com a excepção de 5 vindos do norte do Distrito, em que um deles era o João Manuel, que aparece pela «mão» do Prof. Amaro, que o descobriu em Moimenta da Beira.
Na década de 70, as assimetrias regionais eram bastante mais significativas. Uma criança que viesse de Moimenta da Beira para a cidade tinha sempre mais dificuldades de integração. Com o João não foi diferente no início, até pelo seu modo humilde e discreto.
Mas isto acontecia só fora do campo de futebol. Dentro das 4 linhas, o João era sempre titular. No campo soltava-se e depressa ganhou a consideração de todos nós. Não era fácil. Mas ele, sem muitas palavras, integrou-se de uma forma simples e tranquila.
Com a vinda, mais tarde, para o Viseu e Benfica intensificou-se o nosso contacto e não mais deixámos de comunicar. Em Coimbra, eu a estudar, o João já na Académica, encontrávamo-nos casualmente, muitas vezes, pela Praça da República. Esta pequena história serve só para dizer que «cresci» com o João e que hoje é difícil gerir a situação por que passa. A vida atraiçoa-nos muitas das vezes. Uma doença de foro neurológico veio acabar uma carreira de futebol digna de um grande profissional.
Espero, sinceramente, que Viseu e os seus clubes não se esqueçam de um profissional que os serviu de uma forma inexcedível e que é um ser humano de grande valor. O tempo pode não permitir que se faça uma grande manifestação, mas trazer o João ao Fontelo, para que lhe seja transmitido que estamos a torcer por ele, que podemos ajudá-lo a vencer mais esta partida que a vida lhe prega.
Viseu e Benfica e Académico devem num próximo jogo do CAF em Viseu reunir os seus atletas desde as escolas até ao topo e, com o João Manuel no relvado do Fontelo, fazer uma homenagem simples mas sentida.
Quando, nesta coluna, defendi a colocação de fotos de equipas, público e de profissionais de futebol de Viseu no Estádio do Fontelo aqui está uma oportunidade para se concretizar.
Força João.
in Jornal do Centro (18-03-2005)
Assembleia Geral do CAF discute dissolução do clube
Está prevista para de hoje a uma semana, 11 de Março, mais uma Assembleia-geral de Associados do Académico de Viseu. Ponto único em discussão: Dissolução do Clube.A actual Direcção do Clube colocou o lugar à disposição em Maio de 2004 de forma a permitir que aparecesse um novo elenco e preparasse a época de 2004-2005. O que se verificou foi a sucessão de convocatórias de Assembleias-gerais que não se realizavam por ausência de sócios, algumas até alvo de «piadas» pela presença de um só associado, por exemplo.
Viseu corre assim o risco de perder a sua grande Instituição desportiva de referência nacional, se não aparecer numa semana o que não apareceu num ano, uma nova Direcção. A, possível, extinção do clube é o terminar de longas décadas de uma sobrevivência difícil.
Não é fácil tomar uma decisão deste tipo, mas uma Direcção de meia dúzia de pessoas é impotente para governar uma Instituição que criou ao longo de anos muitas dívidas e viu a Região alhear-se.Todos somos responsáveis. Quer por não termos conseguido, quer por nos termos desinteressado. Quem nada faz também tem culpa.
A subida à 1.ª Divisão Nacional de Futebol em 1978 trouxe ao Académico uma dimensão demasiado grande para quem viveu durante anos com contas de merceeiro. O clube nunca se organizou. O que se passa no CAF não é exemplo único em Portugal, mas com os problemas dos outros podemos nós bem, como se costuma dizer.
O que possa vir a acontecer terá consequências no âmbito desportivo das secções, dos atletas. Onde vão praticar desporto centenas de crianças e jovens que o fazem no Académico? E a SAD Academista? Os atletas integrar-se-ão em outros clubes? Cria-se um novo clube? Criam-se vários clubes? Vamos ter o Clube de Andebol de Viseu? O Natação de Viseu? O Clube de Formação de Viseu? O Concelho de Viseu deixa em termos de futebol sénior de ter clube em Nacionais?
Reduz-se ainda mais o desporto continuado na cidade? Muitas perguntas podem ser feitas, caso se concretize o triste fim do Académico de Viseu.
Mas poucas respostas se podem dar neste momento. Que os projectos desportivos existentes sejam engrandecidos, que os que possam aparecer sejam bem delineados. Há muito recurso humano de valor na nossa região. O associativismo já não seduz, hoje o conforto das nossas casas e a existência de alternativas culturais/lúdicas são nos mais atractivas.
O trabalho realizado em prol das colectividades, as horas tiradas às famílias não é reconhecido pela sociedade na maioria das vezes. Pena, poder, ver o nosso Estádio do Fontelo deixar de ser a residência de uma equipa, de referência, as paredes esquecem as grandes enchentes de outros tempos, os nossos atletas caem no esquecimento. As fotos essas não existem para perpetuar momentos desportivos, que da memória ninguém nos tira.
Aqui em Viseu os políticos ocuparam essas paredes. Quem conhece o Estádio Municipal Cidade de Coimbra sabe o encanto que têm as paredes daqueles corredores com as fotos de momentos e de desportistas da Académica de Coimbra.Pipa, Rodrigo Moura, João Bastos, Eduardito, Penteado, Leal, João Manuel, João Luís, João Vinagre, Rui Manuel tantos e bons atletas viseenses que lotaram o Estádio do Fontelo e que deviam ficar para sempre ligados a este lugar. É por isto, também, que o Académico tem vindo a desaparecer.
Que Viseu passa ao lado do desporto de alta competição através dos nossos clubes, dos nossos atletas.
Acontece a quem não tem memória.Os iniciados do Clube fizeram os jogos do Campeonato Nacional 2004-2005 em Paradinha, para onde foram deslocados para se proceder à requalificação do campo 1.º de Maio.
Já acabou o campeonato! Espera-se uma semana de discussões, pena que não seja de decisões. Uma palavra para a Escola de Futebol Os Vasquinhos do CAF. Projecto que criei e coordenei durante os dois primeiros anos de existência. Nem sempre correu como previsto, as dificuldades são muitas, mas a base de algo de maravilhoso está ali a acontecer e custa ver acabar.
Mas a vida continua e novas perspectivas desportivas para as nossas crianças virão.
Fica a pergunta final: Viseu deixa cair a sua referência desportiva, o Clube da região?!
in Jornal do Centro (04 de Março de 2005)